Conferência de Dom Marcel Lefebvre
14 de março de 1971
Qual é a crise que estamos
atravessando atualmente? Manifesta-se, no meu entender, sob quatro
aspectos fundamentais para a Santa Igreja. Manifesta-se, à primeira
vista, acredito eu, e me parece que é um dos aspectos mais graves,
porque, para mim, se se estuda a história da Igreja, dá-se conta de que a
grande crise que atravessou o século XVI, crise espantosa, que
arrebatou à Santa Igreja, milhões e milhões de almas, regiões inteiras,
Estados na sua totalidade, esta crise foi, antes de tudo, uma crise do
culto litúrgico; e que, se atualmente existem divisões entre aqueles que
se dizem cristãos, há que se atribuir mais que a outras causas à forma
de celebrar o culto litúrgico; e se os protestantes se separaram da
Igreja, a causa principal é que os instigadores do protestantismo, como
Lutero, disseram, desde o primeiro momento: "Se queremos destruir a
Igreja temos que destruir a Santa Missa". Esta foi a chave de Lutero.
Tinha-se dado conta de que, se
chegasse a por as mãos na Santa Missa, se conseguisse reduzir o
Sacrifício da Missa a uma pura refeição, a uma comemoração ou
recordação, a uma significação da comunidade cristã, a uma rememoração
ou memorial da Paixão de Nosso Senhor e, como consequência, que ficasse
mais débil o mais sagrado que há na Igreja, o mais santo que nos legou
Nosso Senhor, o mais sacrossanto, ele conseguiria destruir a Igreja. E
certamente, conseguiu, por desgraça, arrebatar à Igreja nações inteiras,
obrando dessa forma.
A Missa, um sacrifício
Pois bem. Hoje existe uma
tendência, que ninguém pode negar, de pôr as mãos sobre a Santa Missa.
Chega-se a alterar coisas que são essenciais na Santa Missa. E quais são
estas coisas essenciais, na Santa Missa? Em primeiro lugar, a Santa
Missa é um sacrifício. Um sacrifício não é uma refeição. Mas, na
atualidade, se quis desterrar até a palavra sacrifício. Se fala de Ceia
Eucarística, se fala de comunhão eucarística..., se fala de tudo o que
se quer, com tal de não mencionar sequer a palavra sacrifício.
E apesar disso, a Missa é,
essencialmente, um sacrifício, o Sacrifício da Cruz; não é outra coisa.
Substancialmente, o Sacrifício da Cruz e o Sacrifício da Missa são a
mesma coisa e o mesmo e único Sacrifício.
Não há outra mutação que na
forma de oblação. Nosso Senhor se ofereceu de uma forma sangrenta,
cruenta, no altar da Cruz, sendo Ele mesmo o Sacerdote e a Vítima. E
sobre nossos altares, se oferece, sendo igualmente o Sacerdote e a
Vítima, por ministério dos sacerdotes.
Somente o sacerdote é o Ministro
consagrado pelo Sacramento da Ordem, configurado, pelo Caráter, ao
Sacerdócio de Nosso Senhor Jesus Cristo, oferecendo o Sacrifício da
Missa, na pessoa de Cristo: "in persona Christi".
A presença real
Se se tira a Transubstanciação
da Missa... Já que vos falei de Sacrifício, falemos agora da segunda
coisa necessária, essencial, que é a Presença Real de Nosso Senhor, na
Sagrada Eucaristia. Se se elimina a Transubstanciação... Esta palavra é
de uma importância capital, porque, ao suprimi-la, se omite a presença
real, e deixa, portanto, de haver Vítima.
Deixa de haver Vítima para o
Sacrifício. E, portanto, deixa de haver Missa. Dizendo de outra maneira:
deixa de existir Sacrifício e nossa Missa é vã. Ficamos sem Missa.
(Deixou de ser o Sacrifício que nos deu Nosso Senhor, na Santa Ceia e na
Cruz, e que mandou os Apóstolos o perpetuarem sobre o altar). É o
segundo elemento indispensável. Primeiro, o Sacrifício, logo, a Presença
Real. Falemos agora do Caráter sacerdotal do Ministro.
É o sacerdote, não os fieis
É o sacerdote o que recebeu o
encargo, de Deus Nosso Senhor, para continuar o Sacrifício. E de nenhuma
forma os fieis. É certo que os fieis têm de se unir ao Sacrifício,
unir-se de todo coração, com toda a sua alma, à Vítima, que está sobre o
altar, como deve fazer também o sacerdote. Mas os fieis não podem
oferecer, de forma alguma, o Santo Sacrifício, "in persona Christi",
como o sacerdote.
O sacerdote está configurado ao
Sacerdócio de Cristo, está marcado para sempre, para a eternidade. "Tu
es sacerdos in aeternum"... Somente ele pode oferecer verdadeiramente o
Sacrifício da Missa, o Sacrifício da Cruz. E, por conseguinte, somente
ele pode pronunciar as palavras da Consagração.
De joelhos!
Não é normal que os leigos se
coloquem ao redor do altar e que pronunciem todas as palavras da Missa,
junto com o sacerdote. Porque eles não são sacerdotes no sentido próprio
em que o é o sacerdote consagrado. Tampouco podemos considerar como
coisa normal o ter suprimido todo sinal de respeito à Real Presença. À
força de não ver nenhum respeito à Sagrada Eucaristia, acaba por não se
crer na Presença Real. E quem se atreverá a chegar, por tal caminho, a
coisa parecida, depois de meditar a divina Palavra, segundo a qual "ao
nome de Jesus, que se dobre todo joelho, no céu, na terra e nos
infernos"? Se somente ao nome há que ajoelhar-se, vamos permanecer de
pé, quando está presente em realidade, na Sagrada Eucaristia?
Ao lugar onde se oferece um
sacrifício, se dá o nome de altar. Por isso, não se pode aceitar, como
substituto do altar, uma mesa comum, destinada às refeições, que,
segundo recordava São Paulo, se encontram nos refeitórios das casas,
para comer e beber. O altar tem que ser peça que não se traslade e onde
se oferece e se derrama o sangue. No momento em que se converte o altar
em mesa de refeitório se deixa de ser altar.
Tomado do protestantismo
Suprimir todos os altares que
são verdadeiramente tais, pôr, em seu lugar, uma mesa de madeira, diante
do altar que foi solenemente consagrado, é, precisamente, fazer
desaparecer a noção de Sacrifício, que vimos é de importância capital
para a Igreja Católica. E é desta forma como chegou e se consolidou o
protestantismo. Por esta desaparição da ideia de Sacrifício, passou a
Inglaterra inteira ao cisma e logo à heresia.
... Deslizando, deslizando, pouco a pouco, vamos tornar-nos protestantes, sequer sem dar-nos conta.
(Granby, Canada, 14/03/71)
Retirado do Livro "La Misa Nueva - Mons. Marcel Lefebvre" Editora ICTION, Buenos Aires 1983
Fonte: http://www.nossasenhoradasalegrias.com.br/2011/